Flor de Cacto
O que sabes sobre poesia?
Se o meu canto nasce sob o teu olhar e te sobrevoa os sentidos
pousa em ti sementes
bebe de tuas nascentes e ainda não o consegues captar?
Que pensas tu sobre os dias
que meus encantos se diluem num mar de risos divertidos
que ora se fazem ausentes
entregues às vertentes das noites sem luar?
O que sabes sobre a saudade?
Quando a minha asa de ausência, outra de presença
permanecem presas no teu colo por vontade de estar?
Que pensas tu das verdades?
se a minha inocência se desfaz maledicência
pela correnteza onde vejo o meu mundo naufragar?
Flor de cacto, tão singela
que se espinha
e sangra toda ao brotar...
Flor de cacto, tão bela
tão sozinha
quebra
se o vento soprar
O que sabes sobre o amor?
Quando ele não rima morte com dor
querer com indiferença
teimosia com desistência?
Que pensas tu sobre a flor
jogada sobre um fundo sem cor
a morrer nas descrenças
das mitologias e das ciências?
O que sabes sobre minhas cores e meus aromas?
Sobre os meus sorrisos e seus significados?
Sobre os recônditos de minhas belezas?
Sobre minha nuvem e da chuva que dela jorra?
Sobre meus pedaços e inteireza?
Sobre minha crueza e nudez?
O que sabes de mim?
que pensas tu das certezas?
Que te torna tão dono de um amor-abandono assim?
e por fim, a flor de cacto
é bela nas asperezas
Flor de cacto, tão singela
que se espinha
e sangra toda ao brotar...
Flor de cacto, tão bela
tão sozinha
quebra
se o vento soprar.
Mell Shirley Soares & Sacharuk