OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA INSPIRATURAS
O conto e suas demarcações
O ato de contar
histórias remonta a épocas antigas dentre a história da humanidade. A verdade é
que a maioria das pessoas, em um determinado momento de sua existência, já teve
a oportunidade de se entreter em meio às encantadoras ou até mesmo às
horripilantes histórias contadas pelos nossos antepassados, não é mesmo?
Quando nos
reportamos à referida ocorrência, sabemos que toda história se perfaz de um
encadeamento de fatos, e que estes ao serem narrados vão conferindo sentido ao
enredo e envolvendo o interlocutor mediante os acontecimentos. Tal
particularidade permite que o conto, didaticamente, pertença ao chamado gênero
narrativo consoante aos padrões estabelecidos pela Literatura.
Como dito
anteriormente, o conto tem origem antiga. Sua manifestação está condicionada
desde as narrativas orais dos antigos povos proferidas em noites de luar,
passando pelas narrativas dos bardos gregos e romanos, lendas orientais,
parábolas bíblicas, novelas medievais, fábulas de Esopo e La Fontaine, até
chegar aos livros, os quais, atualmente, fazem parte do nosso
conhecimento.

Entretanto,
torna-se relevante mencionar que em termos comparativos há somente um ponto em
que se divergem – o da extensão. O conto revela-se como uma narrativa mais
condensada e, consequentemente, apresenta poucos personagens, bem como o tempo
e o espaço também são reduzidos. Como bem retrata o seguinte excerto:
Um conto é uma narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao
assunto.
No conto tudo importa: cada palavra é uma pista. Em uma descrição,
informações valiosas; cada adjetivo é insubstituível; cada vírgula, cada ponto,
cada espaço – tudo está cheio de significado. [...]
André Fiorussi, In: Antônio de Alcântara Machado et alii. De conto em
conto. São Paulo; Ática, 2003. p. 103)
Analisemos, pois,
de modo particular cada um dos traços demarcadores do gênero em questão:
Enredo – Trata-se da história propriamente dita, na qual os fatos são organizados de acordo com uma sequência lógica de acontecimentos. Ao nos referirmos a essa logicidade, estamos também nos reportando à ideia da verossimilhança.
Enredo – Trata-se da história propriamente dita, na qual os fatos são organizados de acordo com uma sequência lógica de acontecimentos. Ao nos referirmos a essa logicidade, estamos também nos reportando à ideia da verossimilhança.
Mesmo em se
tratando de fatos ficcionais (inventados), o discurso requer uma certa
coerência, com vistas a proporcionar no leitor uma impressão de que os fatos,
situados em um dado contexto, realmente são passíveis de acontecer.
O enredo compõe-se
de determinados elementos que lhe conferem a devida credibilidade, fazendo com
que se instaure um clima de envolvimento entre os interlocutores para que a
finalidade discursiva seja realmente concretizada. Vejamos:
O conflito - talvez seja a parte
elementar de toda essa “trama”, pois é ele que confere motivação ao
leitor/ouvinte, instigando-o a se envolver cada vez mais com a história. E para
que haja essa interação, os fatos se devem a uma estruturação do próprio
enredo, assim delimitada:
A introdução (ou apresentação) – Geralmente,
constitui o começo da história, na qual o narrador apresenta os fatos iniciais,
revela os protagonistas e eventualmente demarca o tempo e/ou espaço. Trata-se
de uma parte extremamente importante, haja vista que tende a atrair a atenção
do leitor, situando-o diante do discurso apresentado.
A complicação (ou desenvolvimento) – Nessa parte do enredo é que começa a se instaurar o
conflito.
O clímax – Trata-se do momento culminante da narrativa,
aquele de maior tensão, no qual o conflito atinge seu ponto máximo.
O desfecho – Conferidos toda essa
tramitação, é chegado o momento de partirmos para uma solução dos fatos
apresentados. Lembrando que esse final poderá muitas vezes nos surpreender,
revelando-se como trágico, cômico, triste, alegre, entre outras formas.
Tempo – Revela o momento em que tudo
acontece, podendo ser classificado em cronológico e psicológico.
O tempo
cronológico, como bem retrata a origem do vocábulo, é marcado pela ordem
natural dos acontecimentos, ou seja, delimitado pelos ponteiros do relógio,
pelos dias, meses, anos, séculos. Tendem a desencadear uma sequência linear dos
fatos.
Já o psicológico é
voltado para os elementos de ordem sentimental dos personagens, revelado pelas
emoções, pela imaginação e pelas lembranças do passado. Notamos que nesta ocorrência,
a tendência dos acontecimentos é fugir da ordem natural em que muito se aplica
uma técnica denominada de flashback, a qual consiste num fluxo de consciência
em voltar ao tempo, de acordo com as experiências antes vividas.
O espaço – É o lugar onde se passam os
fatos. Caracteriza-se como físico (geográfico), representados por ruas, praças,
avenidas, cidades, dentre outros; e psicológico, referindo-se às condições
socioeconômicas, morais e psicológicas condizentes às personagens.
Possibilitando, portanto, situá-las na época e no grupo social em que se passa
a história.
O enredo em sua sequência pode ser linear ou não linear.
É linear quando o tempo, o espaço e os personagens são apresentados de
maneira lógica e as ações desenvolvem-se cronologicamente, assim, observa-se o
começo, o meio e o fim da narrativa e não linear não segue uma sequência
cronológica, desenvolve-se descontinuamente, com saltos, antecipações,
retrospectivas, cortes e com rupturas do tempo e do espaço em que se
desenvolvem as ações.
O tempo cronológico mistura-se ao psicológico, da duração das vivências
dos personagens. O espaço exterior se mistura aos espaços interiores (memória e
imaginação dos personagens). Por Marina Cabral
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