cunhã
cunhã tez tatuada
verde vestido ao vento
pedala a bicicleta velha
pelo fogo da terra
cunhã aos passos lentos
entrecruza as queimadas
voz que encanta toada
embala os lamentos
cunhã pé de serra
dança sina sertaneja
palha de coco cimento
sol carnaúba e estrada
cunhã alma rendada
a paciência dos tempos
forjada nas incertezas
resignação e espera
cunhã dos sacramentos
das marias abnegadas
que a vida não lhe cobre nada
além dos próprios tormentos
sacharuk
A poesia delira ao diapasão e, logo, intenta aos acordes da lira. Poesia que tanto descreve saliva de beijo, bem como a imagem do pensador com o queixo poisado nos dedos. Poesia pode andar no eixo para não ouvir queixa, mas pode andar fora e criar desavenças. Há poesia das crenças, poesia do lixo, poesia pretensa, poesia das gentes, poesia dos bichos. Ela é o amálgama do mundo, verte por tudo. É ofício dos nobres, sedução dos espertos, marofa dos pobres e sina dos vagabundos. Também vive escondida na língua dos analfabetos. Poesia é isso tudo e mais outro tanto, no entanto, poesia não é absurdo. Absurdo é querer-se mudo; absurdo é querer-se surdo; absurdo é querer-se cego. (Tudo e mais outro tanto - sacharuk)

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