A poesia delira ao diapasão e, logo, intenta aos acordes da lira. Poesia que tanto descreve saliva de beijo, bem como a imagem do pensador com o queixo poisado nos dedos. Poesia pode andar no eixo para não ouvir queixa, mas pode andar fora e criar desavenças. Há poesia das crenças, poesia do lixo, poesia pretensa, poesia das gentes, poesia dos bichos. Ela é o amálgama do mundo, verte por tudo. É ofício dos nobres, sedução dos espertos, marofa dos pobres e sina dos vagabundos. Também vive escondida na língua dos analfabetos. Poesia é isso tudo e mais outro tanto, no entanto, poesia não é absurdo. Absurdo é querer-se mudo; absurdo é querer-se surdo; absurdo é querer-se cego. (Tudo e mais outro tanto - sacharuk)

segunda-feira, 27 de julho de 2020
não havia nada nesse mundo tal aquela criatura
não havia nada nesse mundo tal aquela criatura
ainda que o reprovassem
jamais hesitava exacerbar a descrença. crítico ferrenho das instituições, das corporações e ideologias, definia a existência ao declínio das teologias, das ciências e filosofias.
ainda que o reprovassem
era adepto ao amor. Philos, Ágape, Eros. entendia ódio tal amor em ruínas.
ainda que o reprovassem
da sua sementeira voavam minúsculos grãos. nutriam os estômagos logo após o crivo da terra. sabia que plantar era necessário e viver não era uma escolha.
ainda que o reprovassem
dia desses ofertou aos pássaros e borboletas uma rosa escancarada. dela desprenderam sorrisos de néctar.
tudo porque ele sabia
que amor não tem dono
que a fé não frequenta igrejas
que o conhecimento é um mutante vivo e sagaz.
não havia nada nesse mundo tal aquela criatura
quando desatava os nós com seus dedos carinhosos
quando cobria os gelados, os mortos e os calculistas com imenso cobertor.
e não contava nada disso a ninguém. nada. nada.
era ele expectador dos próprios méritos. singular autor de seu anonimato. singular tal as outras criaturas. e singular sabia ser.
e por isso o reprovavam.
tudo por que sabiam
com toda a força do mundo
que ele odiava a hipocrisia.
sacharuk
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