como pensas surpreender
a quem tudo pode esperar?
o que não sei não me surpreende
minha fascinação
são imagens desfeitas
espelhos diluídos
encantos quebrados
escondidos nos cantos
do quarto
me surpreende
o que já sei
se o vejo diferente
o que não sei não surpreende
estilhaço estátuas
quebro paredes
busco resquícios de vida
na massa que une tijolos
me surpreende
o que sei que está dentro
onde não sei onde está
o que nunca sei
não me desmente
logo, não surpreende
pois a surpresa
tem cara de falsa
de mentirosa
argumento liquefeito
o que não sei não me é
o que não ouvi não me ecoa
o que surpreende
rasga a garganta silente
e abre ranhuras
nos muros da mente
pelo resto não me fascino
sequer pela vida dura
que renasce no limo
que encobre as ruínas
e tal fênix
revolve a cinza da vida
não há surpresa
na coisa que verte
tão salva e linda
tatuada com a marca
da experiência
sal extraído das lágrimas
que depois se converte
em sorrisos e brilho
o que surpreende
é o verme imundo
borbulhante nas gotas
do sangue mais podre
e habita o hiato da descrença
me interessam
a fraqueza confessa
e a feiura
logo, não me causes espelhos
a refletir lindas faces
tu os engoles
e nunca te engasgas
portanto, engolirás para sempre
para que não te percas de ti
o que me surpreende
apenas seduz
transmutando belezas
as quais eu já sei
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