inspiraturas revista edição 02 - Poesia Mulher
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A poesia delira ao diapasão e, logo, intenta aos acordes da lira. Poesia que tanto descreve saliva de beijo, bem como a imagem do pensador com o queixo poisado nos dedos. Poesia pode andar no eixo para não ouvir queixa, mas pode andar fora e criar desavenças. Há poesia das crenças, poesia do lixo, poesia pretensa, poesia das gentes, poesia dos bichos. Ela é o amálgama do mundo, verte por tudo. É ofício dos nobres, sedução dos espertos, marofa dos pobres e sina dos vagabundos. Também vive escondida na língua dos analfabetos. Poesia é isso tudo e mais outro tanto, no entanto, poesia não é absurdo. Absurdo é querer-se mudo; absurdo é querer-se surdo; absurdo é querer-se cego. (Tudo e mais outro tanto - sacharuk)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Inspiraturas Revista - edição nº01 - Rogério Germani
Inspiraturas Revista - edição nº01
domingo, 20 de setembro de 2020
Insights do China - A infância de Erico Zambini num colégio de padres - Véio China em www.inspiraturas.org
Insights
do China - A infância de Erico Zambini num colégio de padres -
Estava
com oito anos e a separação de papai e mamãe resultou num grande pequeno
problema: o garoto Erico Zambini.
Sim,
inegável, o pequeno Erico era terrível, destruidor nato, desses que deixam
marcas dos pés no teto e que quebram todos enfeites e duas camas num único dia
ao se imaginar o Gilmar dos Santos Neves, goleiro da seleção numa partida
decisiva. E para ele não havia coisa mais fácil que quebrar camas, e para isso
atirava a borracha escolar contra a parede do quarto e no retorno atirava-se à
cama na tentativa de agarrá-la, evitando assim o gol dos adversários. Evidente,
com isso o remetemos a 1962 e um dia de euforia – Brasil x Espanha - Naquele início de tarde e com a rádio-vitrola
ligada no último volume e com a narração de Pedro Luís, muitas vezes o pequeno
Zambini evitou os gols da "Fúria" às custas das camas que
quebrou, sua e de sua mãe. Evidente, pés
e estrados arreados procurou se esconder da outra fúria, a da sua mãe. Sim,
correu para o quintal ao ouvir o ranger do portão de entrada, anúncio que a
genitora retornava de mais um dia de árduo trabalho. Ufa, alívio, ela
inspecionou a casa, viu as camas destroçadas e ele não apanhou, e nada
aconteceu! Simplesmente gritou o seu nome, mas pela tonalidade da voz já sabia que não apanharia. Com ela
sempre fora assim; ou batia na hora ou não batia, e se não batia exercia o jogo
das pressões psicológicas, além é claro do habitual e ameaçador chinelo na mão;
Ah garoto se te pego....Ah se te pego, garoto.. - Ela sempre ameaçava.
Óbvio,
mesmo diante da destruição e do seu aborrecimento com o filho se viu nela um
certo alívio, enfim, não só dela mas da nação brasileira, pois tanto ela como o
povo deve ter feito as mesmas defesas que o malandro na vitória suada e de
virada por 2 x 1 contra os espanhóis E
talvez ela também se recorde que voltando para casa presenciou a branda
comemoração e os discretos gritos dos torcedores que, com seus pequenos rádios de pilha vibraram
com o triunfo canarinho (Era uma época
de manifestações discretas, literalmente diferentes aos dias de hoje) Contudo e
alguns jogos depois e aí com algum estardalhaço o Brasil se tornaria o
bicampeão mundial nas terras de Pablo Neruda. E foi um título festejado e às
custas principalmente de Amarildo e Garrincha, este último aclamado como o deus
da copa (Pelé esteve ausente ao se machucar no segundo jogo da fase inicial).
Depois
disso a vida caminhou num mesmo patamar até que no início do ano de 1963 veio a
surpresa: Liceu Nossa Senhora Auxiliadora - Mais conhecido por Liceu Salesiano
de Campinas – Um colégio com sistema interno e dirigido por padres.
E
para lá ele foi enviado para cursar o 3º ano primário e o seu tempo naquele
internato durou até o início de 1965 quando definitivamente se despediu dos
padres, os quais aprendeu a gostar e respeitar.
Porém
o pequeno Erico não estava acostumado à excelência e nem às austeridades dum
sistema rígido e assemelhado ao dos quartéis onde talvez a exceção fosse a negra batina assumindo o
lugar das insígnias e do uniforme verde oliva..
Entretanto
ali ele aprendeu muitas coisas e um pouco de tudo, assim como o latim (o rezado
nas missas)
E
a sonoridade desta língua tão curiosa e principalmente acentuada aos finais
"um e ium" - lhe trazia problema tanto quanto aos seus infantis
joelhos que se condoídos às 7 horas de
todas as manhãs ao enfrentarem uma missa jamais inferior aos 80 minutos.
Consequentemente
suas rótulas se tornavam doloridas e queimavam, pois mais de 3/4 da missa eram
consumidos com os alunos ajoelhados, inclusive à hora do sermão. Um pouco mais
tarde a Igreja Católica percebeu que o ato mais sugeria imolação, e assim
determinou para todos um maior tempo sentado, o que fatalmente alegrou as
nádegas de milhões de fiéis.
Ali
também ele se tornou coroinha num processo seletivo; os melhores alunos se
tornavam os escolhidos, e o quê para os padres se traduzia merecimento, para os
alunos, evidente, um alívio, pois era a certeza
de ouvirem o sermão sentados, mesmo que num desconfortável banco de
madeira de três lugares.
Foi
lá também que pela primeira vez sentiu vontade de roubar. Sim, leram
corretamente: Roubar. Não, não se tratava de surrupiar dinheiro, o tênis do
armário do vizinho ou lesar algum amigo na contagem dos pontos numa partida de
ping pong ou de pebolim. Não, definitivamente não eram essas as questões e o
que corroía o pequeno Zambini era a obsessiva intenção de profanar o vinho do
padre, talvez induzido pelas tentações dum demônio que vez ou outra dava as
caras apesar de todas as rezas.
E
o vinho esteve em suas mãos assim como o jarro de vidro imitando o cristal,
líquido que os padres guardavam como quem esconde diamantes, pois o óbvio;
havia outros pequenos e ávidos olhares. E a verdade é que fascinado pela a peça
o líquido encarnado esteve em suas mãos e a intenção de emborcar um longo gole
se manifestou, porém, repentinamente se sentiu vigiado como se olhos pudessem
estar vendo além de sua alma. Assustado olhou para todos os lados e não havia a
presença humana, portanto, aqueles olhos só poderiam ser de Deus, a quem nada
escapava. Hoje e bem mais velho e experiente o Erico Zambini confessa sem medo
de retaliações religiosas que, se aquele vinho fosse na Universal do Reino de
Deus teria bebido e se embriagado, e não teria medo do inferno, do diabo e
muito menos de estar lesando a propriedade privada de Deus.
Porém
o mesmo do abatimento moral à frustrada intenção de profanar o vinho jamais
ocorreu com as sagradas hóstias. E
talvez assim tenha sido pela descoberta que elas eram fabricadas por uma grande
panificadora local. Sim, estava ali no rótulo das embalagens. A princípio foi
choque para os seus olhos cristãos, não havia nada de sagrado ali, e o apropriar-se
de algumas unidades provavelmente não constituiria sacrilégio, afinal não se tratava de manah ofertado pelos céus, mas sim apenas
mercadorias como outras quaisquer, tais quais as latas de sardinhas ou os
pacotes de salsichas que eram fervidas e servidas com pãezinhos no café da
manhã. E relembra das tantas vezes que foi incumbido de buscar as hóstias e a bordo
de uma sacola de lona com algumas frases em latim e uma enorme cruz. Nessas
ocasiões ia tratar do resgate das hóstias com o cozinheiro chefe (sim, somente
o chefe tinha autorização de entregá-las). Por vezes Erico não o achava tão
facilmente e o procurava pela imensidão duma cozinha industrial e o encontrava
por entre fogões enormes e panelas tão altas que certamente teriam mais da
metade da sua estatura. E ele acomodava as hóstias na sacola santa e era tão
excitante vê-las adormecidas em sacos plásticos transparentes, onde talvez
coubessem 300 ou 400 unidades. E a excitação dava lugar à compulsão e ao sair
da cozinha o furto se manifestava diante a fragilidade do lacre das embalagens.
E de olhos vivos como se fosse um agente secreto procurava por cantos ermos e
retirava de uma das embalagens 10 ou 15 unidades e ainda mais porque sabia que o Padre
Conselheiro jamais daria pela falta. Contravenção confirmada ele as escondia
num lenço e as colocava dentro do armário, afinal era muito bom comê-las com
uma margarina Claybom, que não por coincidência também se encontrava dentro
(Sim, aqui duas confissões; a margarina sempre foi objeto dos seus lépidos
dedos, assim como jamais serviram a verdadeira manteiga à mesa do café).
Entretanto todo delito deixa vestígio e cobra um preço, e foi assim que se viu
obrigado a dividir com o vizinho de dormitório o lucro das suas pequenas
trapaças, já que Valtinho o pegara com a boca na botija, melhor dizendo, com a
boca nas hóstias. Ele jamais vai se esquecer que a chantagem ocorreu numa tarde
de violenta tempestade e de obrigatório confinamento nos dormitórios.
É
bom que se diga: Nesse colégio Erico Zambini aprendeu coisas fantásticas além
do latim, a educação e o gosto por estudar com afinco. Sim, ali ele aprendeu a
jamais ser um dedo-duro e entregar um amigo, fosse o preço que fosse. E tanto
que recorda das ocasiões em que ficou de castigo e com os braços voltados para
trás tocando as colunas do pátio por não ter dedurado a arte de um colega. Claro,
os padres jamais acreditariam em evasivas do tipo “não sei, não vi, não estava
aqui" respostas que invariavelmente indicavam lealdade com os amigos. Hoje
ele se recorda do fato e sorri. Sim, havia ali um código de honra mantido entre
os bons garotos da divisão dos MENORES (entre 7 e 10 anos) e os que assim não
procediam não tinham o respeito e a consideração dos demais. E novamente ele
sorri, pois era bem provável que Deus não visse os alcaguetas com olhos da
benevolência.
Ali
o garoto também tomou ciência de outras coisas importantes, mas que uma fulminante
paixão aos 17 (nove anos mais tarde) o fez abortar o seu sonho em ser um famoso
jogador de futebol. Sim! No Liceu ele aprendeu
a ser um ótimo centroavante, o dono absoluto da camisa nove (dum tempo onde o 7
era ponta direita e o 11 esquerda)
E
a maior parte dos créditos por ser um bom rompedor de área se deve ao Padre
Catequista, já que, sábio, ensinava a ele: “Garoto, jamais abandone a marca do
pênalti. Jamais!” O pequeno Zambini, aliás, o "Toureiro" (apelido
dado pelos garotos pelo fato de tourear os beques adversários com dribles)
aprendeu a lição ministrada pelo religioso técnico, e apesar dos seus
excessivos offsides (impedimentos) foi artilheiro de sua divisão por dois anos
consecutivos. “Olé, olé, dá-lhe Toureiro!” Incentivam os "menores" e
eles vibravam com seus gols diante dos times visitantes. Sim, relembra que o
Externato São José e times de outros
colégios vez ou outra apareciam para a disputa de algum jogo ou torneio.
Bem...aconteceram
muitas coisas nesse Liceu, mas que provavelmente poderão ser contadas mais
tarde. O importante é que aos 11 anos o garoto saiu do Salesiano (numa difícil
fase monetária dos pais) e ganhou o mundo e um quarto só para si no apartamento
alugado por sua mãe. Sim! Agora havia a intimidade para ser ele, aliás, haveria
a privacidade e não somente ele mas também para seus dois ou três discos duns
jovens cabeludos que, ganhando o mundo estouravam no Brasil; os Beatles. Já
ouviram falar deles? Porém o seu universo não era restrito aos quatro cabeludos
de Liverpool, mas também às pernas de Vanderleia e às tardes de domingo na
Jovem Guarda. Ali no seu quarto e atrás da porta havia um dos presentes que ganhara
do tio e pelo qual nutria adoração; Um enorme pôster do seu Santos Futebol
Clube com Pelé em feição de realeza (Sim! Ele podia...ele era o Rei).
E
foi nesse ano de 1965 que o garoto da sacristia cursou o “Admissão” no Colégio
São Paulo - O que era "Admissão? -
Admissão era um período intermediário e obrigatório entre o fim do curso
primário e a primeira série do ginásio.
E
o jovenzinho estando em São Paulo fincou base e cursou o ginasial nesse mesmo
colégio privado e num bairro chamado Belém.
Além dos mais era uma outra escola católica e a paróquia levava o mesmo
nome. Inclusive à época havia por lá um grêmio recreativo para os alunos que se
sobressaíssem no futebol (O Brasil de então era unicamente o país do futebol.
Havia o basquete, mas poucos se importavam com ele) Bem, o fato é que o menino
acabou por se tornar um dos bambambãs da sua classe, e não por ser metido ou
gostoso, não, mas simplesmente por ser
bom no futebol e ótimo aproveitamento no aproveitamento escolar, já que a
bagagem trazida do Liceu era tão infinitamente superior que, até à 2ª série do
ginásio se deparou com matérias que anteriormente passara os olhos.
Mas
não era pelo estudo que ansiava, não, não era, queria ir mais além, queria
aquilo que pouco lhe legaram; a liberdade. Agora nada queria com as missas,
cabelos de corte americano, bermudas escolares ou os ensinamentos religiosos. E
sua mudança era tão incontestável que mais nada pedia em suas orações para o
antigo ídolo São João Batista. E com o afastamento da religião, inerente foi
distanciar-se da fé e agora era outro e se excitava com as mundanices dos
garotos de rua e não sentiu qualquer culpa ao folhear num certo dia uma pequena
revista tratada por "catecismo". O catecismo referenciado aqui não
abordava assuntos religiosos ou os ditames da fé, mas sim de desenhos em
quadrinhos que narravam histórias chulas e pornográficas.
Sim! Estava ali a evidência da força de Satã, e
ele trinfou ao usar um colega de classe para levar a imoralidade para a sua
vida e para de outros incautos colegas de classe.
Uau!
Aquilo sim que era liberdade! Aliás, mais que liberdade, libertinagem! E ele
queria voar, ser também o dono de uma fração do mundo, e deixou o cabelo
crescer e a franja cair sobre os olhos assim como faziam os garotos europeus.
Ele era outro agora, descolado, mesmo que ainda continuasse a curtir pernas
femininas no Jovem Guarda, principalmente as coxas loiras e os verdes olhos de
Valdirene (aquela do... Sou a garota papo firme que o Roberto falou). Porém o perfil do Jovem Guarda começava lhe
parecer algo produzido para garotinhas histéricas e ele se irritava com os
gritinhos de "Aii Roberto ou, Erasmo, você é um pão!" e então se esqueceu do programa e à medida que
seus cabelos cresciam queria e cada vez mais que o tivessem por um
"beatlemaníaco" uma espécie de
Paul McCartney tupiniquim. Personalidade assumida, agora não podia voltar atrás
e atormentou a sua mãe até ganhar as botas negras semelhantes às de George
Harrison. E era com elas que ele se sentava às escadarias da paróquia numa
tentativa de impressionar às meninas à saída do turno da manhã. E se munia de
pose e chacoalhava a cabeça até a franja incomodar os seus olhos e insistia ao
seu jeito na canção "A hard Days Night" um estrondoso sucesso dos
novos reis do iêiêiê cantado nos quatro cantos do planeta. Algumas simplesmente
não se davam conta da sua existência, outras, se mostravam tão curiosas que
passavam rente a ele para escutarem os seus estralo de dedos marcando o
compasso e a sua voz absurdamente desafinada
"Itis bim â rard dêis náite"
ele cantava num idioma que nem mesmo sabia o qual.
E
elas apenas riam e ele sorria e a existência se mostrava cada vez mais
interessante e cheia de coisas por conquistar. E agora ele, Zambini, era o
máximo ao negociar a sua bicicleta Monark em pandarecos por uma jaqueta de
couro negro com um dos amigos de rua, uma quase igual à que Marlon Brando usou
no filme "O Selvagem".
E
Erico sentia que parte do mundo lhe cabia e andava pelas ruas, liberto, cão sem
coleira, e não mais como um boi a caminho do matadouro, como nos passos que lhe
eram ditados dentro dos muros do Salesiano.
E
essa nova atmosfera o excitava e os garotos do colégio São Paulo o estimulavam
e por lá as coisas aconteciam e estavam acontecendo sempre, inexplicáveis e até
explicáveis como as belas pernas e o estupendo bumbum curvilíneo de dona
Eunice, sua professora de religião.
Quanta ironia, Zambini! Justamente uma criatura temente a Deus teria que
ter uma bunda daquela? E o par de nádegas colocou Erico à prova e foi por culpa
dele (apesar de ela jamais saber) que aprendeu a se masturbar. Lembra-se de
como foi e que aquilo se iniciou com o amigo Desidério, dois anos mais velho
que ele. Parece que ainda consegue ouvi lo: “Faça assim com o teu pau: Pra
frente, pra trás, pra frente, pra trás e bastante rápido que vai te dar um
treco gostoso e logo a coisa vem” - Ele explicara. Recorda também de ter
perguntado ao Desidério: “A coisa que vem é aquela coisa branca?” - Lógico,
mais que nunca ele tinha que dar a impressão que sabia mais ou menos das
coisas, que era um cara entendido, afinal, ele conhecia até catecismo. O amigo
o olhou aturdido e respondeu na lata: “Que coisinha branca, xará? Aquilo é
porra! Tá me entendendo, cara? Aquilo tem o nome de porra, seu bosta!”
Bem,
com a explicações na cabeça e o tesão nas pontas dos dedos lá se foi o Zambini
para uma nova experiência, já que antes da descoberta acreditava que a curtição fosse apenas a ficar folheando as
tais revistinhas para ficar de pênsis ereto, assim como ficava
nas noites que revivia os justos vestidos e a região glútea da
professora de religião. Porém foram necessárias algumas sessões para
aperfeiçoar-se nos macetes da masturbação, pois nas primeiras vezes o Junior
(assim denominou o seu pênis) ficara ereto e dolorido e nada mais. Recorda-se
em que nada acontecendo voltou ao amigo Desidério e esse persistiu incentivando
- “Tem que insistir, cara! Pressão na mão e pra frente, pra trás, sem parar” –
Por fim e por sua feição de quem não estava compreendendo como o amigo não
assimilara algo tão simples perguntou se estava fazendo de forma que ensinara,
ao que Zambini respondeu: - “Claro, Dério! Pra frente e pra trás, tipo ioiô,
vai e vem” – O amigo Desidério olhou e riu -
“É isso aí cara, tipo ioiô! Pressão nos dedos e jeito na munheca e tu
vai ver que o lance é mais fácil que saber cantar “A hard Days Night" acredite! - Ele ouviu atentamente o amigo e naquele dia
daria tudo o que tinha para se chamar Desidério, afinal, o amigo além de ser um
bom de punheta, ainda sabia cantar "Itis bim â rard dêis náite”
corretamente.
O
certo é que as nádegas da professora Eunice continuavam mexendo com o
forasteiro, e o "Pra frente, pra trás" ainda não vingara até que pela
7ª ou 8ª vez aconteceu e subiu pelo seu
corpo um calor tão intenso e
inexplicável que ele pensou que aquilo era melhor que ouvir os discos
dos Beatles e dos Stones. Depois da sensação de quentura algo espirrou tão
prazeroso que acabou por se viciar naquilo. Aliás, vícios estavam se tornando a
sua especialidade, e não raras vezes pedia dinheiro à sua mãe, mas não eram os sonhos ou tortinhas de morango (sua
alegação) que comprava na padaria, ao contrário, atravessava a rua para
adquirir no Bar do Joaquim unidades isoladas de cigarros da marca Consul,
mentolado. Recorda que certa vez quase que dona Eunice o flagrou fumando um
daqueles, ocasião que se rapidamente se escondeu ao se abaixar atrás de um Jeep
numa rua próxima da escola. Ah se dona
Eunice soubesse dos cigarros e das suas "tocadas"... estaria perdido.
Porém hoje, decorrido um pouco menos de meio século Erico Zambini presta loas e
se recorda perfeitamente de cada detalhe da feição de dona Eunice, além do seu
glorioso traseiro, óbvio. E ele sorri, afinal Eunice foi a mulher das primeiras
sensações, e como sempre dizem; A primeira mulher jamais se esquece.
Enfim,
retornando àquele tempo, e no decorrer daquele ano o jovem Zambini acabou por
se tornar um bróder, enturmado e cheio das nove horas. E como era bom de bola
foi arregimentado para a Cruzada do Colégio São Paulo, o grêmio esportivo que
funcionava no subsolo da própria Paróquia. Ele relembra que na sede havia jogos
como o de pebolim, ping pong, botões, dominó, mini bilhar e até o Banco
Imobiliário, e tudo para manter unidos os melhores jogadores das duas classes
de Admissão existentes no colégio.
Claro, eles jogaram muitas partidas, pois oficialmente havia um único
time que representava o colégio no Salão da Criança (Pavilhão do Ibirapuera). E
esse time era justamente o dele, já que o torneio era disputado por garotos na
faixa etária dos 11 aos 12 anos. Antes de iniciar o torneio o time treinou
muito e participou de algumas disputas e foi bem em alguns, apesar de não
ganhar qualquer delas. E ele se perguntava: “Será que Deus não está do nosso
lado?” – Nunca obteve a resposta, pois provavelmente Deus estava muito ocupado
para tão pequenas desimportâncias. E a falta da resposta fez criar nele a
sensação que estava sendo punido pelos seus pecados, principalmente àqueles que
homenageavam a querida mestra. E tanto acreditou que poderia ser desagravo de
Deus que jamais se permitiu comentar o fato com os garotos do time,
´principalmente à época do Salão da Criança, afinal, nos dois anos que
participou do torneio o Cruzada São Paulo foram desclassificados próximos às
quartas de finais, portanto e se
houvesse confessado achariam o culpado, aquele que não permitiu o avanço.
À
época ele pensou muito em toda aquela situação e pretendia voltar a ter fé em
Deus, pois sentia que aos poucos ela fugia de sua alma. E as outras das suas
questões eram o futebol, os Beatles, Stones e às saias cada vez mais curtas no
período matinal. Logo e por
conseguinte se existisse algum Deus
sabia que ele lhe dava a liberdade de atos e o de ser o seu próprio advogado, e
jamais seria injusto e não o fora à época do torneio, pois a maior das
realidades era que o melhor vencia o Salão da Criança. Justo ou não o fato é
que vez por outra a culpa retornava e ele se sentia o peso dos seus crimes e
tinha pesadelos e neles os dedos esquerdo e direito pareciam cruéis e apontavam
acusadores, como lhe dissessem; Seu devasso, deixe a rabo da dona Eunice em paz
- e ele acordava sobressaltado do maldito pesadelo que permitia que dedos
falassem. E eles se repetiram duas, três e uma infinidade de vezes e novamente
Erico voltava a se preocupar com a opinião de Deus, talvez o Todo Poderoso se
aborrecesse com o profano dos seus atos, ainda mais com uma de suas servas.
Não! Definitivamente não! Era preciso deixar as nádegas de dona Eunice em paz, então
centrou-se em outras professoras, bonitas até, mas não surtia o mesmo efeito, e
ele virava para o outro lado da cama e acaba adormecendo. Enfim, pois por mais
que quisesse transferir a sua devassidão, sabia, dona Eunice seria
insubstituível.
E
assim foi por todo tempo que permaneceu no Colégio São Paulo onde cursou até o
quarto ano ginasial e sem jamais se livrar do estupendo traseiro da professora
de religião. E quem sabe se ela não o esperasse para se casarem num futuro não
tão distante? Sim, afinal dona Eunice era solteira.
Que
Deus o perdoasse!